COLÉGIO INTERNACIONAL DOS TERAPEUTAS (CIT)
Na conclusão do seu livro sobre Philon e os terapeutas de Alexandria Cuidar do Ser, Jean-YvesLeloup diz: “Ao lado da ordem dos médicos falta criar a ordem dos Terapeutas. Lembraria as exigências de uma abordagem multidimensional ao ser humano e favoreceria uma prática menos fragmentada, quer dizer, menos sectária, da medicina, da psicologia e da espiritualidade. Não se poderia esperar um mundo melhor sem uma revisão dos pressupostos antropológicos de nossos métodos de cuidar. Um mundo melhor exige uma melhor antropologia.” O Colégio Internacional dos Terapeutas foi fundado no dia 8 de setembro de 1992 na UNIPAZ-DF. O CIT-Brasil faz parte da SEDE UNIPAZ, como organismo complementar, e estende-se pelas diferentes unidades nacionais e internacionais da UNIPAZ. Não sendo de cunho formativo, o CIT-Brasil acolhe Terapeutas já formados, das mais diversas competências e orientações, que se aliam em torno de uma abordagem transdisciplinar holística, uma escuta acolhedora das múltiplas dimensões do todo humano; de uma ética rigorosa e aberta de respeito à inteireza humana; de uma prática transdisciplinar na área da saúde integral e da arte de cuidar do Ser.
A partir de uma visão de ecologia profunda, e de uma definição de saúde como um estado de bem estar psicossomático, social, ambiental e cósmico, três categorias de terapeutas são reconhecidas:
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A Clínica – para os profissionais clínicos habilitados, como médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionista, entre outros.
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A Social – para os profissionais habilitados para as diferentes aéreas sociais como: serviço social, educadores, artistas, políticos, cientistas, teólogos, advogados, área organizacional, entre outros.
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A Ambiental – para os profissionais que cuidam ao meio ambiente, como biólogos, ecólogos, arquitetos, engenheiros, paisagistas, entre outros.
A tarefa de ser agente de saúde, portanto, estendida a todo ser humano que se importa pelo bem estar de si, de todos e de tudo, abrindo-se à responsabilidade do Cuidar. O que alia os Terapeutas do CIT são as Dez Orientações Maiores:
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Antropologia transdisciplinar holística, que é também uma ontologia e cosmologia, implicando no reconhecimento da tríplice condição existencial, físico-psíquico-consciência, atravessada pelo mistério do Ser;
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Ética da benção e do respeito à inteireza, jamais reduzindo o ser humano a um rótulo, também cuidando, nele, daquilo que não é doente, a partir do qual uma dinâmica de cura é ativada;
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Prática diária meditativa do silêncio, visando a centralidade e abertura à transcendência;
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Prática diária do estudo dos textos contemporâneos e os da sabedoria perene, visando uma permanente atualização;
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Prática diária da gratuidade, para o exercício da solidariedade, do serviço desapegado ao outro, à sociedade, ao universo;
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Reciclagem, um compromisso de vivenciar, anualmente, um tempo-espaço de recolhimento para uma revisão, reflexiva e editativa, do processo de individuação;
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Reconhecimento da necessidade de ser acompanhado por uma escuta terapêutica, evitando o risco da inflação egóica do vulgar-se pronto, estancando o processo contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento;
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Anamnese essencial, através de registros sistemáticos das vivências, no estado de vigília e no onírico, que evidenciam a presença numinosa do Ser, na existência cotidiana;
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O despertar da Presença, a tarefa de lembrar o que realmente somos, o Ser que nos funda e informa, através da respiração, da invocação, ou da atenção plena ao instante;
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A fraternidade, através de um ritmo de encontros para a sinergia, o estudo partilhado, a comunhão meditativa.
Para as pessoas interessadas em ser membros do CIT, o pré-requisito, no Brasil, é ter participado da Formação holística de Base ou Abordagem Transdisciplinar Holística, da UNIPAZ.
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Coordenador do CIT-Brasil: Roberto Crema, reitor da UNIPAZ.
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Mentor do CIT: Jean-Yves Leloup.
“O CIT não é uma instituição, mas uma inspiração – e também não é uma empresa. De acordo com Fílon de Alexandria, ele , sobretudo, uma “escola de sabedoria” ou uma “escola de contemplação”, que recapitula e sintetiza as quatro grandes escolas de sabedoria da antiguidade, o Jardim de Epicuro, o estoicismo de Zenon[1], a Academia de Platão, o liceu de Aristóteles (veja a conferência de J.Y. Leloup em Paris – Encontro de terapeutas, 2010). Se o CIT não é uma instituição nem uma empresa, não se devia entrar nele como em uma instituição ou uma empresa (curriculum – exame de qualificação, etc.), mas como em uma escola de sabedoria, isto é, pelo jejum, pela metanóia (teshuvá[2]) e outros elementos do que na antiguidade caracterizava uma “iniciação”. Se o CIT não é nem uma instituição nem uma empresa, não deveria ser gerenciado como uma instituição ou uma empresa (hierarquia de poderes – controle – comitês ou sindicatos, etc.), mas como uma escola de sabedoria, isto é, pela prática e pela fidelidade às dez Orientações, que sintetizam a inspiração primordial dos Terapeutas: manter um laço indestrutível e puro com a fonte do seu ser e de todos os seres, para seu próprio bem e para o bem de todos. É evidente que os Terapeutas que a cada dia dedicam um tempo maior à meditação e ao estudo, e que permanecem no espírito de Fílon de Alexandria (uma antropologia, que é também uma ecologia e uma ontologia), vivem uma transformação interior que diferenciará o seu comportamento daqueles que na cidade têm sua corte”. Sua “superioridade” não se deve a um acréscimo de inteligência ou do poder que lhe seria devido, mas a uma humildade em relação “ao que neles maior que eles” (mais inteligente, mais amoroso que eles). Esta humildade ou esta humanidade os tornará capazes de “cuidar” da terra e daqueles que nela vivem, com a leveza e a paciência daqueles que se consideram “servidores inúteis”. Uma escola de sabedoria não tem por finalidade distribuir diplomas ou patentes, certificando uma competência técnica nos diferentes domínios exercidos pelos seus membros, mas ela convida a um aperfeiçoamento, renovado sem cessar, das qualidades do coração e do espírito que os tornam autênticos terapeutas (pessoas que encarnam em sua prática e em seu quotidiano o espírito das 10 Orientações). A “fraternidade” dos Terapeutas não é nem uma fraternidade virtual, nem uma fraternidade mundana, nem uma fraternidade política ou religiosa, mas uma fraternidade essencial e silenciosa. Além das afinidades emocionais, intelectuais e afetivas, ela é a partilha de um desejo profundo de unidade com a Fonte de todos os seres, “o silêncio obscuro e luminoso” que ílon chama YHWH, “o Ser que é aquele que é” (Ele tem todos os Nomes e nenhum Nome pode nomeá-lo). Desta unidade e integração, decorre todos os bens, “Tudo o mais nos é doado por acréscimo” (saúde, harmonia, serena sobriedade e bem aventurança: “Shalom”).”
Jean-Yves Leloup